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quarta-feira, 25 de julho de 2012

Resquícios de uma antiga paixão

Estava eu caminhando pelas bifurcadas estradas da vida, quando de repente vi um buraco, e desse buracos saía uma luz... algo brilhava lá dentro e me chamava a atenção... não pude resistir e me entreguei a essa aventura...
Quando comecei a descer, algo me disse que voltasse, porém não dei bola, deixei levar-me pelo desejo de achar algo que satisfizesse meu amor próprio, afinal, não podia perder a oportunidade de quem sabe achar um grande diamante lá em baixo, pois essa deveria ser a causa do intenso brilho...
Fui descendo, descendo, não estava tão difícil, até porque estava encontrando pelo caminho pequenas pedras brilhantes, as quais eu recolhia e guardava, pois acredita serem elas valiosas, embora não pudesse ter certeza, devido à escuridão que cegava meus olhos.
Conforme descia, percebia que já não haviam mais pelo caminho tantas das tais pedras brilhantes, bem poucas até, e conforme descia, elas diminuiam em quantidade considerável.
Parecia-me que estava quase lá, porém, a certeza de que acharia algo valioso lá em baixo era cada vez mais fugidia, devido às observações feitas no caminho. Então olhava para cima, pensava em voltar, mas o caminho parecia ser bastante doloroso... talvez valesse a pena continuar descendo, eu ainda tinha algumas chances de encontrar o que queria.
Finalmente cheguei até o fundo. Eu não enxergava praticamente nada além da escuridão. O pouco de luz que vinha estava muito longe para clarear alguma coisa. Ao banharme na lama que havia lá, procurando a pedra que brilhava, a decepção foi enorme. Não havia algo de valioso lá em baixo, apenas lama e lodo fétido, animais peçonhentos e putrefação, na qual banhei-me sem haver necessidade, procurando algo que em realidade, nunca existira. O brilho intenso que vi eram as pequenas pedras que recolhi ao inciar da aventura, daquele caminho sem fim. Só me restava agora subir de novo, escalar todo aquele imenso paredão, voltar por todo aquele caminho sem fim que havia acima de mim.
Comecei, não havia outra escolha, porém estava difícil, meu corpo todo doía, clamando por um descanso. Sentia minhas forças esvaindo-se aos poucos, e aos poucos eu subia. A subida era tão lenta que só o que pensava era em desistir. O que fazer? Me atirar sobre a força forte que forçosamente me puxava para baixo? Não podia. Um dia teria que começar a caminhada novamente, pela certeza de que não havia outra saída. E quando mais esperasse, mais doloroso seria, mais fraca estaria diante de mim mesmo... seria muito doloroso. Tive de continuar.
Fui subindo, subindo, e quanto mais perto chegava aquela roda de luz lá em cima, mais forças em mim reuniam-se, por ver que aquele sofrimento estava todo cada vez mais perto do fim.
Finalmente cheguei lá em cima. E junto com o alívio e felicidade, a decepção, mais uma decepção. As pequenas pedras pelas quais achava ter valido a pena meus esforços eram falsas. Falsas! Ilusão! Pura ilusão! A luz que resplandecia no interior daquele imenso poço não eram senão pedras falsas e com o mesmo valor de cacos de vidros! E isso doía mais do que todo sofrimento experimentado até então... A descoberta de que fora mentira doía bem mais de que o esforço para sair da podridão...
O que me fizera descer tão fundo e sofrer, e sacrificar-me tanto por algo que nunca existira? O que queria eu, em para ter certos prazeres me sacrificar tanto, sendo que tais prazeres deviam vir de forma doce e pacifica e não amraga como fora? Tolice, infantilidade. Terei de carregar arranhões e machucados graças à minha "santa tolice, infantilidade e rebeldia".

Manoela Brum

3 comentários:

  1. Que metáfora mais linda, Manoela! Indescritivelmente tocante! E, cá entre nós, como às vezes brilham forte essas pedras falsas, não?
    GK

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  2. Incrivelmente...
    Mas o mais extraordinário é a nossa falta de capacidade de identificar isso, não acha?

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  3. De fato! Mas, para viver a vida, sempre vale a pena correr o risco! Errar, mesmo quando dói, é sempre bem melhor do que nem tentar...!
    GK

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