Poesia baseada no livro "O Retrato de Dorian Gray", de Oscar Wilde.
O forte perfume das rosas inundava o estúdio
Trazido por uma ligeira brisa estival
Que corria por entre as árvores do jardim.
Recostado a um canto do divã,
Lorde Henry Wotton, contemplava a cintilação
Das suaves flores cor de mel da estação.
No centro do quarto,
Preso a um cavalete ereto,
Estava o perfeito retrato
Do rosto do jovem Dorian.
Quando indagado, o pintor Basílio Hallward,
Um segredo a respeito de Dorian
proferiu:
“Ora, um novo modo de estilo e
espécie de arte,
sua personalidade me sugeriu.
Posso agora recriar a vida,
de um modo que antes, ninguém
nunca viu.”
Tal era a beleza daquele rosto
jovem
Que com sua adolescência branca e
rosada
Causou em seu grande amigo
A encarnação visível
Desse ideal invisível
Que persegue sempre
Ao artista incrível.
Mas tão quanto grande era sua
paixão
Tão funesta foi a influenciação
De Lorde Henry Wotton,
Que disse, quiçá como predição:
“O que você falou não passa de
um romance
um romance artístico, se assim o
prefere,
mas quando se vive um romance,
de qualquer espécie que seja,
acaba-se sempre e completamente,
sem romantismo.”
O que houve então, ao pobre
Basílio?
Que depois da noite do dia 9 de
novembro
Teoricamente foi para Paris no
trem das onze?
Vinte anos já haviam se passado
De quando o belo quadro foi
pintado
Mas o rosto do jovem de ouro
Nunca mesmo se tornou outro
Era sempre o mesmo moço
De 17 anos, novo.
Seja lá qual for a mágica,
Ou trato feito com o diabo.
Uma coisa se sabia,
O retrato, não mais aparecia.
O retrato aquele,
Que lhe revelou sua beleza,
Seu brilho no olhar, seus cachos
de ouro,
Que o fez desejar nunca mudar
Revelou-lhe também sua alma
De uma forma
que ninguém poderia imaginar.
Começou com uma ruga de crueldade
Ao lado dos lábios de veludo
E ao final de 20 anos
O referido quadro, já sabia de
tudo.
Como pode uma obra de arte
Suportar o peso da idade?
Como pode o verniz,
Transformar-se em rugas e
expressões?
A química não explicava, nem
podia, pois,
O sangue que surgiu no quadro
Quando do encontro de Dorian e Basílio, e depois.
Surgiram então, rugas de
indignação,
De astúcia e hipocrisia.
Mas o que era, o que seria?
Se depois de quase ser morto,
Resolveu que bem melhor se
tornaria?
Teria sido simplesmente a vaidade
que provocara sua boa ação?
Ou seria o desejo de experimentar
uma nova sensação?
É! Nada de bom havia
Em suas cordiais atitudes.
Por vaidade tinha respeitado.
Por hipocrisia, afivelou a máscara
de bondade.
Por curiosidade, permitiu a si
mesmo aquela renúncia.
Reconhecia-o agora.
Ele é que havia enchido de
melancolia suas paixões.
Ele que havia corrompido
totalmente seu Espírito,
Causando horror à sua imaginação.
O que o transtornava por fim,
Era a morte em vida, de sua
própria alma.
Mas o quadro, lá estava ainda...
E sua simples recordação,
Punha a perder muitos momentos de
alegria.
Tinha impressão de que o quadro,
Sua própria consciência, seria.
Sim, era isso, sua própria consciência.
Tinha de destruí-lo.
Olhou em volta e viu a faca
assassina de Basílio.
Brilhava. Cintilava.
Da mesma forma que matara o
pintor,
Mataria agora a obra, e tudo quanto
ela significava.
Mataria o passado e tornar-se-ia
livre.
Mataria aquela monstruosa alma
visível e,
Sem suas hediondas advertências,
Recuperaria o sossego.
Apanhou a faca e enterrou-a no
retrato.
Ouviu-se então um grito
e o ruído de um corpo que caía no chão.
Quando entraram no quarto,
O quadro estava lá, pendurado na
parede,
Com a imagem que se estava
acostumado a ver de Dorian Gray:
Um jovem de 17 anos, embora tivesse 37.
E estirado ao chão,
Um velho torpe, com uma faca
cravada no coração.
Manoela Brum
Tanto quanto a beleza e a precisão dos teus versos, querida amiga, emociona-me profundamente ver alguém ter tamanha sensibilidade, a ponto de transformar em poesia uma obra que leu e lhe tocou.
ResponderExcluirGK
Muito obrigada amigo! Sinto-me realmente lisonjeada com tuas palavras.
ResponderExcluirE realmente, eis um livro profundamente tocante. Posso dizer-lhe que Oscar Wilde conseguiu colocar uma vida inteira e todas as vidas dentro de um único livro.